por
Isa Maria Freire, doutora em Ciência da Informação
Antropóloga. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação.
Convênio MCT/IBICT - UFRJ/ECO
Com quase toda a certeza, o pensamento científico tem nos acompanhado desde o início. ... Tem sido o meio da nossa sobrevivência. É nosso direito hereditário. ...” [1]
Se assim é, a ciência nasce em um organismo biológico no contexto de um modo de produção social e cultural. Emerge de um "mar de histórias" que são contadas umas à partir das outras, numa rede de pescar abstrações sobre o mundo e seus mistérios.
A atividade científica envolve os valores de igualdade, fraternidade e liberdade, que agitam os corações ocidentais desde a Revolução Francesa. Sua característica principal, desde o início, é a comunicação dos resultados, a transmutação do conhecimento em informação, que nessa forma circula na sociedade.
Nossa ciência ocidental transformou o mundo com seu trabalho, mas seus resultados são contraditórios — se mostrou sua força destrutiva em Hiroshima e Nagasaki, criou novas expectativas para a vida no planeta; se procura as estrelas mais distantes pela lente do radiotelescópio Hubble e mapeia o genoma humano, ainda não compreende os fenômenos da consciência nem como as estruturas sociais se reproduzem na teia neuronal.
Para além das necessidades do sistema produtivo, todos temos direito à informação que possa diminuir nossa incerteza diante do meio ambiente, uma informação que subsidie nossa ação no mundo.
[Mas a informação] só possui poder de ação quando adquire a condição de mensagem, com intenção específica e assimilação possível. ... [2]
E aqui, vale lembrar que mesmo mediatizada pela parafernália das tecnologias da informação, a comunicação de mensagens supõe um emissor e um receptor humanos e “sabemos que sua consciência não pode deixar ‘passar’ qualquer coisa de qualquer modo”[3].
Creio que na Era do Conhecimento que se estrutura na sociedade, cabe a nós, profissionais da informação, esse papel de mediador dos discursos, aproximando produtores e usuários do conhecimento. E precisamos fazê-lo de forma a aproveitar todas as possibilidades de comunicação. Isso significa trabalhar numa profunda interação com o receptor ao qual se dirige a mensagem — que usará ou não a informação como insumo à sua ação no mundo, construindo seu próprio saber e expressão.
Pois se o conhecimento é como a luz[4], poderemos iluminar a vida de incontáveis pessoas — das próximas às mais distantes. Este é o nosso desafio e nossa responsabilidade social: tornar tangível o intangível, ajudando a escrever um final feliz para a história da humanidade.
[1] SAGAN, C. O mundo assombrado pelos demônios. A ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo: Cia. das Letras, 1996
[2] BARRETO, A. de A. A questão da informação. São Paulo em perspectiva, v.8 n.4, 1994
[3] GOLDMANN, L. Importância do conceito de consciência possível para a comunicação. In: O Conceito de Informação na Ciência Contemporânea; Colóquios Filosóficos Internacionais de Royaumont. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970
[4] Knowledge for development. Relatório 1998/1999 do Banco Mundial.